segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

DOM ALOISIO LORSCHEIDER (1924-2007

Igreja em luto

A morte de dom Aloísio Lorscheider priva a Igreja Católica de um de seus sacerdotes mais importantes e, ao mesmo tempo, mais humildes. Na quarta vez em que foi internado neste ano, o arcebispo emérito de Aparecida (SP) não resistiu a complicações dos problemas cardíacos que lhe acompanhavam havia cerca de quatro décadas. Aos 83 anos, ele morreu às 5h20min deste domingo, por falência múltipla dos órgãos, no Hospital São Francisco, em Porto Alegre.Segundo gaúcho a se tornar cardeal, o franciscano nascido em Estrela foi uma das vozes mais corajosas e influentes da oposição ao regime militar. Quase se tornou papa. Ao mesmo tempo, era capaz de gestos como limpar os banheiros dos seus alunos no Vaticano ou beijar os pés de presidiários que o tomaram como refém.No Rio Grande do Sul, a governadora Yeda Crusius decretou luto oficial por três dias em sua memória. O velório de dom Aloísio ocorre desde as 16h de domingo na Catedral Metropolitana de Porto Alegre. O corpo deve permanecer na Capital até quarta-feira, quando será levado para a localidade de Daltro Filho, no município de Imigrante, onde haverá o sepultamento na quinta-feira. Todos os eventos fúnebres estarão abertos ao público (confira na página ao lado).Cardeal foi paladino da democracia nos anos 70A trajetória do cardeal teve seus momentos decisivos nos anos 70. Na política do Vaticano, ele foi o não-europeu que esteve mais perto de se tornar papa. Apontado como provável sucessor de Paulo VI desde meados da década, figurou como favorito nos dois conclaves realizados em 1978. Teria trabalhado contra a própria candidatura por considerar sua saúde muito frágil, em razão dos problemas cardíacos que demorariam três décadas para derrubá-lo.Na primeira eleição do ano, o escolhido foi o italiano Albino Luciani, que morreria um mês depois. Na eleição seguinte, o cardeal de Estrela teria apoiado a candidatura de Karol Wojtyla, o futuro João Paulo II. No cenário político brasileiro, o cardeal deu as cartas como secretário-geral e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cargos que ocupou entre 1968 e 1978, auge do regime militar. À frente da organização, denunciou torturas e propôs a reforma agrária.Menino que chegou ao seminário, em Taquari, com nove anos, Lorscheider teria uma das carreiras mais brilhantes da hierarquia católica. Com 34 anos, era professor de teologia dogmática em Roma. Nomeado diretor, acordava às 4h30min para lavar os banheiros estudantis. Em 1994, durante visita a um presídio próximo a Fortaleza, onde era arcebispo, foi refém de detentos. Dias depois, retornou para lavar e beijar os pés dos presidiários.Em 2001, ao completar 75 anos, colocou o posto de arcebispo de Aparecida à disposição, seguindo regras da Igreja. O afastamento veio em 2004. Lorscheider encaixotou seus pertences - os livros eram o grosso deles - e os enviou para a sede dos franciscanos em Porto Alegre, onde ocupava um quarto simples, em meio a um punhado de frades, desde então.
Zero Hora

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