segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

TESTEMUNHO MONÁSTICO SOBRE DOM CÂNDIDO PADIN, OSB

Difícil não mencionar a grandiosidade do ministério episcopal de Dom Cândido Padin OSB, são muitos os testemunhos a seu respeito. Nesse último domingo, 27/01/2008, o Cardeal Dom Cláudio Hummes presidiu a Missa das 10h no Mosteiro de São Bento, em sua última homenagem fúnebre a Dom Cândido. Nessa ocasião, deu seu testemunho de grande apreço e amizade ao Bispo recentemente falecido, na última sexta-feira, solenidade, na cidade, da Conversão de São Paulo, e disse que Dom Cândido "sempre foi uma grande referência para a Igreja no Brasil". Os prestimosos serviços do Bispo emérito de Bauru ganha proporções nacionais, quando o assunto foi a correta vivência da cidadania, a formação da Nação e a educação. Como jurista perspicaz soube recorrer ao patrimônio legal comum, para denunciar os abusos de autoridade do Golpe de 1964, como educador atento, participou do aprimoramento do sistema de educação no país, em instituições de ensino que obtiveram grande êxito em seus programas e em seu envolvimento direto nos movimentos estudantis. O reconhecimento de seus pares foi imediato, sendo ele reiteradamente convidado a participar de comissões de educação no Brasil, na América Latina e no Vaticano.
Seu testemunho como monge beneditino, no entanto, não é tão patente para o grande público. Ficou restrito, na maioria das vezes, entre aqueles que conviveram com ele. Em minha última conversa mais prolongada com Dom Cândido, ele relatou em detalhes seu processo vocacional. Sua maior surpresa foi o fato de descobrir sua vocação beneditina bastante tarde. Ela havia cursado o Colégio de São Bento, desde os 14 anos de idade, depois cursou a Faculdade de Direito da São Francisco e retornou ao mosteiro, já na Faculdade de São Bento, para o estudo da Filosofia, onde veio a doutorar-se. Sempre esteve envolvido com o agitado ambiente dos movimentos estudantis e da militância católica. Nunca havia pensado, no entanto, em vocação religiosa. Logo após seu doutoramento, o chamado à vida religiosa viria mudar radicalmente sua vida. Era uma vocação monástica beneditina, aparentemente tão contrastante com seu intenso engajamento católico. Seu discernimento era claro: tratava-se de um chamado de Deus, a respeito do qual não se poderia escusar. Em 2 de março de 1942, ingressa no mosteiro sem titubear. Essa é a primeira nota característica do monaquismo de Dom Cândido, antes de tudo seja feita a vontade de Deus. São Bento adverte veementemente aos seus monges a renunciarem a própria vontade, nem o corpo lhes pertence, a fim de que seja feita a Vontade de Deus, na terra como ela é feita no céu.
As mudanças radicais marcarão a vida de Dom Cândido. Se sua opção de consagração foi a vida de conversão no escondimento do claustro monástico, o trabalho que ele irá desempenhar no Mosteiro de São Bento logo põe a descoberto seu ardor apostólico e seu penhor para a educação. Em 5 de agosto de 1960, é nomeado bispo para dar assistência aos católicos brasileiros engajados da Ação Católica. Vale notar que sua nomeação para desempenhar trabalho tão desafiador se deu em reconhecimento a um trabalho desempenhado a pedido de seu Abade e sua comunidade beneditina, não por um trabalho feito a parte. A obediência e o apreço pela dedicação abnegada o levaram para fora dos claustros, por caminhos que somente a Providência sabe conduzir. Com efeito, aceitando a nomeação episcopal, ele continuou guardando o ideal monástico, o qual foi provado, certamente, pelos longos anos nesse ministério. Apenas por ocasião de sua resignação em 1990, quando completou 75 anos de idade, esse ideal pôde se mostrar ainda vivo. Mais uma mudança. Aos 75 anos de idade, retorna à disciplina monástica, não mais com o mesmo vigor da mocidade, porém com o mesmo ardor renovador daqueles que têm por maior conta fazer a vontade de Deus. Dom Cândido foi um homem que esteve no mundo, profundamente envolvido com seus assuntos mais candentes, mas ele não era do mundo, seu lugar era o claustro monástico.
Dom Cândido era um monge profundamente apostólico, foi chamado para o apostolado da ação e o desempenhou com todo ardor, mas cultivou no íntimo do coração aquele caminho de conversão, cuja sabedoria é, sobretudo, vertida na vida de silêncio e de oração. Sua morte foi sinal derradeiro dessa união. Morre no dia da solenidade da Conversão de São Paulo, o Apóstolo das Nações, rezando o Ofício divino, tal como acontecera com o seu patrono São Bento.
D. João Evangelista Kovas, OSBPrior do Mosteiro de São Bento de São Paulo
CNBB

Nenhum comentário: