segunda-feira, 27 de outubro de 2008

ATÉ QUE ENFIM ALGUÉM VALORIZA A FAMÍLIA

Dr. Frei Antônio Moser/Teólogo

Em se tratando de família, a tônica é sempre a mesma: estaríamos diante de uma instituição falida. E há razões evidentes para se pensar nesses termos. Rareiam-se os casamentos que merecem este nome, aumenta o número dos divórcios; das mães solteiras, muitas delas ainda adolescentes, e das que abraçam uma "alternativa". Enfim, há sinais preocupantes no horizonte familiar. Entretanto, este tipo de leitura, ainda que verdadeira, é parcial, e por isso mesmo inadequado. Há uma outra face na moeda. Como muito bem expressou o Documento de Aparecida, no ano passado, há muitas razões para se louvar a Deus também em relação à família. O que vem projetado na mídia também não passa de uma leitura unilateral. Ademais, para quem desejar ter diante de si um diagnóstico mais fiel da realidade familiar, importa não esquecer o passado de nosso país. Se ao longo dos nossos 508 anos de história encontramos muitas luzes, também encontramos muitas sombras. Não é verdade que os Meios de Comunicação, em conjugação com alguns fatores mais recentes, são os únicos responsáveis pelo esfacelamento de muitas famílias. Nossa história e nossa cultura não podem ser deixadas de lado quando se quer fazer uma análise imparcial. Elas não são em nada edificantes em termos de sexualidade e famíliares. Uma vez feitas estas observações, nas quais transparecem muitas sombras, apesar de alguma luz, é sempre consolador ouvir uma voz dissonante como esta: "A família virou sagrada". Este é o título de uma entrevista que Luc Ferry concedeu à Revista Veja de 22 de outubro último. Este filósofo francês, autor do best seller "Aprender a viver", lança uma nova obra com o significativo título "Famílias, amo vocês". E há muito a aprender desta entrevista de um filósofo. Em primeiro lugar, o entrevistado ressalta que até mesmo o divórcio só se tornou possível quando a sociedade descobriu o casamento por amor, e não mais como resultante de acertos familiares ou quaisquer outras razões. Em segundo lugar, o entrevistado acentua que, numa sociedade na qual se equipara progresso ao poder de compra, só se pode esperar insatisfação crescente, e nunca realização. Daí a necessidade de se buscar outro ideal tão sublime pelo qual se possa dar a vida. E aqui aparece a surpresa. Embora possamos estranhar a concepção de "sagrado" encontrada no autor de "Famílias, amo vocês", vale a pena ler e refletir sobre estas frases. "A família é a única entidade realmente sagrada na sociedade moderna, aquela pela qual todos nós ocidentais, aceitaríamos morrer, se preciso..." ( Veja, op cit., 17s).

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