terça-feira, 30 de dezembro de 2008

IN MANUS TUAS

Dom Helder colocou sua vida nas mãos de Deus com muita disposição interior e com muita generosidade a exemplo do profeta Jeremias que, também, ofereceu a Deus sua vida sem medir esforços mesmo diante dos conflitos, dos sofrimentos, das dores e das incompreensões. Eis aqui a razão do lema de seu episcopado: In Manus Tuas – Em tuas mãos - que ele viveu, em toda sua plenitude, com rigor e coerência.
Jeremias, diante das exigências, da violência e da opressão, disse, numa paixão muito profunda: "Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir" (Jr 20,7) e Dom Helder, sobre Deus, afirmava: "Teu nome é e só podia ser Amor". Por isso, agarrou-se, com todas as forças, no amor de Deus e por Ele deu sua vida, foi – lhe fiel e perseverou nessa fidelidade até o fim.
Desde os primeiros dias de sacerdote, ordenado no dia 15 de agosto de 1931 com 22 anos de idade, trabalhou de modo incansável, dedicou-se aos mais simples, aos operários, aos letrados da sua cidade – Fortaleza – e foi, a partir daí toda "uma vida pelos irmãos".
Em 1936, partiu para a cidade do Rio de Janeiro e lá teve um objetivo a perseguir: a luta em defesa dos menos favorecidos, dos excluídos e dos esquecidos. Agiu, não só com palavras, sempre oportunas e confortadoras, dirigidas, especialmente, às pessoas de boa vontade, mas, sobretudo, com ações concretas. Basta olhar para os organismos que ele fundou, os projetos que executou e as campanhas que promoveu.
Em 1964, ao chegar à Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Helder dizia: "A música é divina! E se a música ajudasse?" Então foi ao encontro do compositor suíço, Pierre Koelin, com uma vontade enorme, buscando criar um mundo mais justo, mais fraterno e mais humano. Assim nasceu a belíssima "Sinfonia dos Dois Mundos". O movimento de Evangelização "Encontro de Irmãos" foi a menina dos olhos do grande pastor dos empobrecidos, porque aí ele via os "pobres evangelizando os pobres".
E a "Operação Esperança"? Ela nasceu num momento de desespero, como uma urgente necessidade de criar sinais de vida e de esperança no meio da população marcada pelo sofrimento e pela desesperança.
Dom Helder, pequeno na estatura, mas grande nos sonhos, nos ideais e na santidade, colocou sua vida nas mãos do Pai com a firme convicção e com a inabalável certeza de que a pessoa humana é objeto do amor de Deus.
Percebendo, também, claramente, que ela é sujeito da sua própria história, procurou sempre valorizá-la como instrumento desse amor e, ao mesmo tempo, numa grande súplica, desejava que o Reino de Deus fosse implantado e que se tornasse a realidade mais bela, bonita e solidária, sonhada pelo Pai. Que o centenário de seu nascimento, celebrado a 07 de fevereiro de 2009, produza em nós os frutos que esperamos.

Pe. Geovane Saraiva
pegeovane@paroquiasantoafonso

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